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Expedição ao Vulcão Sagrado

Ontem saímos cedo em direção à uma das montanhas mais sagradas da América do Sul, o Vulcão Llullallaico. Com 6.739 metros de altitude, este vulcão era reverenciado pelos Incas e outros povos que habitam e habitaram o altiplano Andino. Em seu cume foram construídos vários abrigos, onde inclusive foram encontradas as três múmias mais bem preservadas do mundo. Trata-se de três crianças que foram sacrificadas como oferendas ao deus sol pelos Incas. Por causa do intenso frio, do pouco oxigênio e da absoluta falta de humidade no topo do Llullallaico, seus corpos ficaram tão bem preservados que parecem que morreram há poucas horas. As múmias estão hoje no Museu de Arqueologia de Alta Montanha em Salta.

O caminho até o Llullallaico é longo e lento. Primeiro são 130 km de estrada de terra até a abandonada mina de enxofre La Casualidad, um percurso estreito repleto de inúmeras paisagens espetaculares, mas quase sempre à beira de um precipício. A descida até a mina parece então uma verdadeira aventura off-road. Durante mais de 30 anos esta mina abrigava uma verdadeira cidade com milhares de habitantes, escolas, hospital, etc., mas foi fechada em 1979 e agora é uma cidade fantasma, habitada apenas por vicunhas e pássaros.

Depois de La Casualidad a estrada se transforma em praticamente uma trilha - íngreme com pedras altas e pontudas e muita areia e pedrinhas soltas que nos obrigaram a usar a tração 4x4 para não derraparmos e vencermos as subidas. Passamos na ida rapidamente pelo Salar de Llullallaico pois nosso guia Flávio estava apurado para chegar ao lugar do acampamento base antes que os tradicionais ventos da tarde começassem a soprar com muita força. Depois de passar o salar, começamos a subida da face leste do Llullallaico. Tratava-se de uma grande rampa de pedras onde não havia estrada - seguimos as trilhas feitas por outros carros no passado até chegarmos a 4.930 metros de altitude. Alí paramos para montar acampamento.

O vento já estava forte e incomodava muito. Como o pôr do sol nessa época do ano é só por volta das 8 da noite, ainda tivemos bastante luz calor para montar as barracas e cozinhar nosso jantar. Eu comecei a sentir muito mal de altitude, com uma forte dor de cabeça e náusea. Felizmente, já estive muitas vezes em altitudes como essa e conheço meu corpo - sabia que iria reagir. Tomei duas neosaldinas e fui me deitar, até porque o vento estava tão forte que inviabilizava qualquer outra atividade. E com o pôr do sol a temperatura rapidamente despencou.

Acordei pouco antes da meia noite com o silêncio: o vento havia parado e minha dor de cabeça desapareceu. Botei a cabeça para fora da barraca e mergulhei num mar de estrelas. Flávio roncava alto e Guida tentava dormir no frio, mas eu não tive dúvidas. Cacei minhas botas e fui montar meu equipamento fotográfico enquanto a lua minguante nascia e iluminava o Llullallaico. Fiz várias fotos e voltei sorrindo para a barraca - Pachamama estava ajudando.

Acordamos às 6 da manhã do dia seguinte, ainda no escuro. Enquanto Guida e Flávio faziam e comiam café, fui trocar baterias e cartões de memória e montar a filmadora e o equipamento fotográfico para registrar o espetáculo do amanhecer. Céu limpo, pouco vento, muito frio, clarão no leste e ansiedade pelos primeiros raios de sol a bater no Llullallaico. Foi um amanhecer lindo, mas rápido. Logo desmontamos o acampamento e descemos até o Salar de Llullallaico, onde paramos para observar os flamingos e fotografar as cores das algas e plantas que sobrevivem neste ambiente. Depois voltamos direto para Tolar Grande, parando rapidamente só para comer.

Nem ontem nem hoje cruzamos com uma viva alma em todo o caminho. Ou seja, se algo tivesse acontecido com nosso carro, teríamos que nos virar por conta própria - exatamente como faziam os viajantes e exploradores do passado. Nosso Duster passou com louvor por este teste, apesar desse caminho que percorremos ser recomendado apenas para veículos mais altos e mais bem equipados. Valeu a pena? Se valeu! Aventura por centenas de quilômetros de paisagens sem igual no resto do mundo.


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